SRI LANKA
O plano agora era seguir para a Tailândia. Mas, mesmo estando a viajar tenho
estado atento às notícias e não deixei de saber que houve um golpe de estado
naquele país precisamente na semana em que ia para lá. Sendo assim, quando fui fazer
Check-in no aeroporto das Maldivas, disse que queria ficar em Colombo onde
fazia escala. Não sabia se podia, porque nunca tinha feito. Mas não só deu,
como pagando uma pequena multa consegui guardar a segunda parte da viagem para uma outra altura. Foi uma escolha forçada pelos acontecimentos, mas foi a
melhor coisa que podia ter feito.
Aterrei na capital do Sri Lanka sem nada saber sobre o país. Nada mesmo! A
primeira coisa que fiz foi ligar-me a um computador e ver a final da Liga dos
Campeões que estava a dar naquele momento, que eu nunca poderia deixar de ver.
Quando o jogo terminou, aí sim começou a minha viagem pelo Sri Lanka. Cheguei à
praça de taxis às 4 da manhã e apanhei um taxi para o hostel que entretanto
marquei, a 40 minutos de distância. O taxista apresenta-se e diz "hello,
I'm Fernando"! Eu ri-me mas não liguei muito, era apenas uma coincidência.
Mesmo
sendo 5 da manhã, o gerente do hostel recebeu-me com um sorriso na cara e
camisa aberta a mostrar a sua enorme barriga. Disse que no dia seguinte me
ajudava a planear a estadia.
Na manhã seguinte, sentámo-nos com um mapa e mostrou-me o que havia de melhor
no país e o que, na sua opinião, eu devia fazer. Aqui não há um roteiro definido como
outros países, e apesar de ser um país muito simpático e acolhedor, não há um
sistema de transportes preparado para os turistas. Cada um tem que decidir onde
quer ir e arranjar maneira de lá chegar. Como estamos em época de chuvas
nalgumas áreas, planeei com base nisso.
Então, o que decidi fazer foi: Contratar um taxista para andar comigo a
dar uma volta por todo o país! Parece (e é) um pequeno luxo, mas que se revelou
inteiramente justificável, pois desta forma rentabilizei melhor o tempo que era
bastante limitado, sem ter que esperar pelos longos comboios e autocarros,
procurar estações, carregar malas, etc. Li que no Sri Lanka os horários de
comboios costumam estar “um quarto de dia atrasados, meio dia atrasados ou um
dia atrasados”. Não quis correr riscos e decidi mesmo assim.
Combinámos um preço por quilómetro e partimos para a aventura no dia seguinte
logo às 5.30 da manhã. Aproveitei o que restava desse primeiro dia na praia de
Colombo e jantei num restaurante ali perto. Neste restaurante, o dono começou a
fazer conversa comigo. Eu disse-lhe que era Português e o senhor ficou todo
contente, até exaltado, pois os seus antepassados também eram. Aproximou-se e
disse "I'm Fernando!". Agora, em dois dias, conhecer dois Fernandos
do outro lado do Mundo era coincidência a mais. Explicou-me que era um nome
muito popular no país. Para quem não sabe, o Sri Lanka fez parte das nossas
colónias durante uns tempos (1505 foi quando lá chegámos), pelo que mantém
muita da nossa tradição, mais cultural do que arquitectónica. Muitos dos nossos
nomes são usados por eles. Silva, Almeida, Fernando ou Dias são nomes com que
me deparei várias vezes aqui.
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Champions League |
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Das primeiras imagens que tive em Colombo |
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Praia de Colombo |
Saímos por volta das 5.30 para evitar o louco
transito de Colombo (parece que estamos a falar de Lisboa quando vamos ao
Colombo ao Domingo!?) e comecei a andar pelas estradas do país. Apesar do muito
transito e das ultrapassagens loucas, as estradas são boas e civilizadas a
comparar com alguns sítios onde tenho estado, especialmente Moçambique e
Indonésia. Nas operações stop, a polícia nem sequer inventa multas para pedir
dinheiro às pessoas como nos outros países, estão mesmo ali para ver documentos!
Em inúmeros pontos ao longo das estradas, perto de escolas, obras, hospitais
está um grande outdoor com a cara do presidente do Sri Lanka, o Sr. Mahinda
Rajapaksa, que passei a considerar meu companheiro de viagem, tal era o número
de vezes que o via com aquele ar angelical de mãos unidas como que a abençoar o
povo. (Na verdade está a dar a si o crédito pelos serviços do
estado).
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Mr. President |
Pelo caminho neste primeiro dia parei numa
banca sugerida pelo meu motorista privado onde me prepararam um ananás
temperado com sal, chilli e pimenta que me deixou com uma azia muito
desconfortável mas tinha que experimentar.
Seguindo
mais umas horas, já perto do nosso destino nesse dia, cheguei a Rabukkana, uma
pequena aldeia onde à beira da estrada existem dezenas de placas a publicitar
passeios de elefante como se fosse uma coisa normalíssima. Quem for distraído
não repara, mas junto a estas placas, um pouco escondidos, estão também os
próprios dos elefantes, à espera de serem escolhidos por um visitante para dar
uma voltinha. Eu fui um deles, dei o meu primeiro passeio em cima de um
elefante, e não podia ter gostado mais da experiência! Começámos na estrada, no
meio do trânsito a ser ultrapassado pelos carros, mas depois o Habura, meu novo
amigo, entrou pelo mato a dentro, e aproveitou para tomar um banho e dar-me
banho a mim também num rio ali perto.
Depois
deste passeio, também naquela zona, fui a um centro de Elefantes que se chama
Pinnawala Elephant Orphanage. É uma espécie de zoo que acolhe e cuida dezenas
de elefantes (no Sri Lanka existem milhares destes animais), desde bebés até
morrerem. Aqui, ao contrário de um zoo, uma pessoa pode circular à vontade, com
cautelas, pelo meio dos elefantes. Foi das coisas que mais gostei de fazer até
agora em toda a viagem. Em África estive perto de muitos elefantes, mas nunca
tinha tido oportunidade de me aproximar de um, brincar e interagir com eles.
Aqui, também se pode alimentar os elefantes bebés e adultos, e assistir ao maior
espectáculo do dia, quando os 70 e muitos enormes animais atravessam a rua para
ir tomar banho em comunidade. Foi sem dúvida uma grande paragem, que por si só
já estava a fazer valer a pena ter vindo para aqui e não para outro país
qualquer.
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High five! |
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No meio dos elefantes |
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A caminho do banho |
O
meu poiso nesta noite foi Kandy, uma das maiores cidades do país. Aqui, existe
um enorme e belíssimo Jardim Botânico, que tem pouco de diferente de muitos
outros no Mundo. Mas o que fez com que fosse diferente para mim desta vez foi o
facto de, quando estava distraído a ver um corvo transportar um enorme pau pelo
bico, ouvir um barulho como se fosse uma corda a abanar, bem alto. Olhei para
baixo, e estava uma cobra que tinha pelo menos dois metros a passar entre os
meus pés! Dei um pulo e fiquei mais surpreendido do que assustado, a cobra
ficou ainda mais assustada e escondeu-se de imediato (o susto para mim veio
depois, quando realizei o que tinha acabado de acontecer).
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Tentei ir atrás da cobra |
Acordando
no quarto de hotel que o motorista tinha recomendado, mas que não era mais do
que uma tentativa de prédio inacabado, com os lençóis sujos de meses, fui a uma
cerimónia de danças típicas do país, usadas pelos guerreiros e pelos religiosos
nos tempos antigos. Foi apenas mais um check. Esta cerimonia aconteceu junto à
principal atracção da cidade, o Templo do Dente Sagrado. Trata-se de um simples
mas bonito Templo que tem, guardado a sete chaves, um suposto dente pertencente
ao Buda, que tem sido preservado durante anos e anos. Aqui, centenas de pessoas
fazem filas de horas apenas para olharem de relance para esta Relíquia, e ficam
dias inteiros a rezar perante a sua imagem, pois o dito objecto de ouro que esconde
o dente só pode ser visualizado uma vez por dia.
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Como não consegui uma fotografia da Relíquia, tirei uma fotografia a uma fotografia |
Ja
no caminho de saída de Kandy, até ao próximo destino, Anuradhapura, foi tempo
de nos cruzarmos com uma série de vacas. Aqui, tal como na Índia, as vacas são
consideradas sagradas para os Budistas. Jamais são utilizadas para comer. E,
como é frequente, se uma vaca decidir atravessar a estrada, são os carros que
têm que esperar que saia. Perguntei ao meu companheiro de carro o que é que
faziam às vacas que morriam, ao que ele responde, com naturalidade, que são
enterradas.
Parámos
numa fábrica de produtos lácteos para experimentar Curd. Curd é uma espécie de
iogurte, mas de búfalo. Consta que é muito mais saudável que iogurte e leite
normal, e também tem um tão bom ou melhor sabor.
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As vacas na estrada |
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Iogurte de búfalo |
Anuradhapura
é uma cidade que fica no Norte do Sri Lanka, que foi estabelecida no Séc IV e é
considerada uma das (a principal) cidades sagradas no país.
Esta
cidade tem, além de muitos macacos, alguns dos mais impressionantes tempos que
já vi. Considerando a altura em que foram construídos, há practicamente 1600
anos, são verdadeiras obras de arte e modernismo. No total, em Anuradhapura
visitei 11 locais, entre templos, imagens de Buda, umas piscinas com um
evoluído sistema de irrigação e uma árvore que foi plantada a partir de uma
semente da árvore que o Buda utilizava para meditar.
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Proibido entrar de calções |
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A certa altura apareceu mais um novo amigo |
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Isto estava debaixo de uma rocha num dos Templos |
Nesta
terra passeei com muito prazer, mas também bastante sofrimento. Dentro dos
templos é obrigatório andar descalço. Os locais têm provavelmente os pés cheios
de calos, mas eu, que vinha de sítios luxuosos onde não tinha que andar
descalço ou andar de todo, queimei os pés na areia e pedra como se fossem ovos
estrelados. Estavam uns 40º e às tantas a dor era tanta a andar que preferi
caminhar pela relva, mesmo sabendo que ali provavelmente estavam escorpiões e
cobras.
Practicamente
não suo, ou suo muito pouco quando faço muito desporto. Aqui, estava
constantemente alagado em suor, tal era o sol e o calor.
Depois
de um dos templos, o taxista, que esperava sempre por mim fora deles, chamou-me
e disse para ir com ele a uma enorme tenda que havia ali perto e onde estavam a
servir almoços oferecidos a toda a gente. Perguntei se, mesmo sendo turista
também tinha direito e explicou-me que sim, que era um serviço do estado.
Aproveitei mais um grande e picante almoço típico do Sri Lanka, e, nesta tenda,
lá estava obviamente a fotografia do meu grande amigo Sr. Presidente.
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Comer à mão, como é obvio |
Uma
das melhores coisas de ter andado com taxista foi ter tido a oportunidade de
comer nestes sítios apenas frequentados pelos locais. Desde o pequeno almoço, o
mais ligeiro snack, ou grandes refeições, fiquei a conhecer tudo sobre a
cozinha do Sri Lanka e, como tem vindo a ser hábito, fiquei apaixonado. De
manhã comíamos String Hoppers, uns fios muito finos de farinha de arroz
temperados com muito molho de caril e especiarias. Ao almoço era comum comermos
Rice and Curry, o nome que se dá ao autêntico banquete de arroz, legumes de
todos os tipos e caril de topo, normalmente vegetariano, pelo qual nunca paguei
mais de 1€; Os jantares normalmente eram Rotis, rolos tipo crepes com ovo,
frango, ou o que se quiser lá dentro ou Kottu Roti, uma mistura de todos os
vegetais disponíveis preparada e triturada na frigideira. Pelo meio, inúmeros
snacks como Chamuças, Dal, Cutard, Lassie ou outros. Estes nomes só interessam
a quem algum dia decidir ir ao Sri Lanka, mas ficam aqui registados!
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Nos mercados locais |
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Rice and Curry, prato principal no Sri Lanka, muito picante |
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O meu companheiro de viagem - que ainda não sei como se chama |
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Chamuças |
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Kottu Roti |
No
dia seguinte a Anuradhapura, depois de uma noite dormida num "hotel"
que desta vez me deu as boas vindas com um sapo no duche, fui até Sigiriya, uma
pequena vila que é conhecida e visitada apenas por uma razão: tem uma enorme
pedra de 200 metros de altura, onde no topo estão as ruínas do que em tempos
terá sido (há duas versões) um templo budista ou um palácio/fortaleza onde o
então auto-imposto Rei se escondeu com medo de ataques de um irmão que tinha direito ao trono. O que quer que tenha sido, por ter
sido construído no topo de uma rocha de 200m há 1500 anos é de admirar. Na
altura não haviam máquinas nem a facilidade que há hoje em dia mas no entanto a
estrutura é mesmo complexa.
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Sigiryia |
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Uma parte do caminho |
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A vista da subida |
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Vista do topo |
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Finalmente lá em cima |
Próximo destino: Dambulla, onde fica o Rock Temple, um espectacular Templo todo ele construído dentro de uma pedra. Foi sem dúvida dos que mais gostei de ver!
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No interior do Templo, debaixo de uma rocha |
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Golden Temple |
Seguindo
viagem, parei num Herbal Garden onde um especialista me mostrou as plantas dos
mais diversos tipos de ervas e especiarias. Nunca tinha imaginado que o
chocolate vem de onde vem, nem sabia que o caril era feito a partir destas
folhas verdes.
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Cacau |
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Cacau |
Depois, parei ainda numa das inúmeras fábricas de chá, onde vi os vários pontos de
produção de chá desde que é apanhado até estar pronto. Normalmente, estas
fábricas têm alguém para receber os visitantes, que mostra e explica como
funciona, mas esta pessoa já tinha ido embora, pelo que eu e o taxista tivemos
que entrar na fábrica de forma um pouco ilegal e andámos lá pelo meio sem
ninguém perceber o que estávamos ali a fazer, até sermos convidados a sair.
A próxima paragem era noutra aldeia chamada Nuwara Eliya. Ficava mesmo no meio da
montanha, com um grande lago no meio. Enquanto jantava e tentava arranjar um
sítio para ficar a dormir, fui abordado por vários locais, a quererem saber
coisas sobre o meu país, a minha viagem, etc. Um deles até me desafiou para um
braço de ferro, que obviamente ganhei!!
Aqui
fiquei a dormir no melhor lugar até agora. Todos os hotéis eram caros, então
consegui, em conversa com um local, arranjar uma casa de família para ficar por
um preço muito barato. Esta casa ficava quase no topo da montanha, com uma
vista incrível e os seus donos eram 5 estrelas. Ofereceram-me um novo jantar e
enquanto conversava com eles, dei o iPad aos seus filhos para se entreterem.
Pareceu-me que nunca tinham visto um, porque ouvi logo a filha a dizer em
segredo ao irmão: “it’s an ipad!!!”. Como era mais velho, ficou ele a jogar
jogos durante horas até eu lhe dizer que já chegava porque tinha que ir dormir.
Saindo
de Nuwara Elyia partimos em destino ao fim do Mundo – o World’s End.
O
World’s End é um parque Natural, dos mais protegidos do Sri Lanka, que tem de uma
mistura de vales e montanhas com selva. Durante 4 km, caminhei por um cenário
semelhante ao Alentejo, seco e quente, para depois mudar para o interior da América do Sul,
frio e húmido. A certa altura, a selva dá subitamente lugar a um enorme
precipício com 800m de altura com uma vista incrível sobre as montanhas
vizinhas e grande parte do território que nos rodeia. Não foi uma caminhada
fácil (5 horas) mas apesar disso estavam várias pessoas a fazê-la, incluindo
pessoas com muito mais anos (no mínimo 50) nas pernas do que eu!
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A vista lá de cima era incrível |
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A um passo de 800m |
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World's End |
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Quase todos os turistas no Sri Lanka são Indianos ou Chineses |
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Portugal Around the World |
Um
dos maiores encantos deste país é a diversidade de ambientes.
Quem
conduzir de costa a costa (350km, 7 horas) tem uma verdadeira experiência, pois consegue viver as 4 estações num só dia. Viajando pelo Sri Lanka passa-se por
planícies, montanhas e savana e praias.
De
um momento para o outro passamos de clima tipicamente Africano para a Amazónia. Ora se está
numa zona quente, seca e plana, ora se está no meio de uma enorme serra cheia
de árvores e nevoeiro a toda a volta. Passado uns quilómetros, estamos numa
savana, húmida e fria, para depois passarmos nas enormes plantações de chá, nos
vales verdes como os que tem a Irlanda e de seguida voltarmos às planícies
iguais às nossas alentejanas.
Nas zonas quentes, como disse, era igual a estar no Este de África, com rectas
intermináveis de estrada e areia nas bermas, com pequenos comércios nas aldeias
a tentar cativar quem por ali passa. Estas eram as estradas que mais gostava de
andar no Sri Lanka.
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No geral, os condutores aqui são civilizados, especialmente comparando com outros países onde tenho estado. Quando há (muito frequentes) ultrapassagens, há a cortesia de buzinar e quem está a ser ultrapassado chega-se para o lado. No entanto, há também uma certa hierarquia assustadora: quem tem prioridade são os maiores. Portanto se um autocarro estiver a ultrapassar e a vir na direcção oposta, quem se “tem” que desviar são as motas ou os carros que estavam bem, pois arriscam-se a levar com um bruto pedaço de metal de frente caso não o façam. Às vezes estas ultrapassagens eram arriscadas ou mesmo perigosas, mas na grande maioria dos kms que fiz raramente senti qualquer perigo.
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O meu pequeno Taxi! |
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Quando houve um desastre juntaram-se centenas de pessoas - igual a Portugal |
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Talvez a casa de banho com a melhor vista do Mundo! |
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Entrei num hotel onde por acaso estava a haver um casamento e fui convidado a sair |
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Como o noivo estava vestido (não consegui tirar fotografia) |
Depois da caminhada até ao World’s End segui para Arugam Bay. Arugam Bay é uma
pequena aldeia que fica na costa Este do país e um dos destinos de férias
preferidos aqui. Cheguei ao final da tarde e despedi-me do taxista. Acreditem
ou não, nestes dias todos nunca consegui perceber o nome dele, por isso
chamava-lhe sempre "my friend!".
Apesar
de chegar de noite, ainda tive tempo para mergulhar novamente no Oceano Índico,
que estava a uma temperatura que devia ronda os 25 e os 28 graus. Uma delicia.
Os 3 dias que se seguiram não foram bons, foram muito melhores que isso.. Nestes
dias, não tive rigorosamente nada para fazer a não ser ficar de papo para o ar
e aproveitar a praia, a boa comida local, boa internet e surf perfeito. Pus
a conversa em dia com Portugal, li a Sábado e a Visão que me trouxeram para as
Maldivas e descansei muito.
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Foi aqui que me despedi do meu amigo que não sei o nome |
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Mergulho de chegada ao início da noite |
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Arugam Bay |
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A divertir-me um bocado com a Gopro |
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A saida do meu hostel, a 2 metros do meu quarto |
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O hostel onde fiquei |
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Outro casamento, desta vez na praia |
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O meu pequeno almoço diário, quase de borla |
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Apareceu uma excursão que encheu a praia num Sábado |
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Em dois dos dias apareceu uma tempestade ao final da tarde que desaparecia passado vinte minutos! |
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Passada a tempestade |
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Os pescadores locais, com quem fui meter conversa |
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Numa tarde fiquei horas a falar com os pescadores da zona, que adoraram a máquina fotográfica. No fim ofereci-lhes uns trocos e compraram cigarros "verdadeiros" porque os que tinham dinheiro para comprar eram "very bad!" |
Passados estes três magníficos dias, voltei à vida real, o viajar! Já sem taxista privado, tive que fazer
por regressar a Colombo, de onde ia partir e que fica na outra ponta do país.
Uma hipótese era apanhar um autocarro directo, 11 horas, sem interesse. Outra,
era tentar chegar a Ella, uma aldeia no meio da ilha de onde parte um comboio
que, segundo o que me disseram é um dos melhores passeios para fazer no Sri
Lanka. Escolhi a segunda hipótese, obviamente.
Então, depois de receber algumas indicações sobre como lá chegar, levantei-me
às 5.30 da manhã e esperei o primeiro autocarro. Por fora aparentava ser normal,
apenas um pouco vistoso porque tinha imensas cores e luzes. Por dentro, era um
autêntico tuning: luzes e pinturas grafitti, ecrã lcd, colunas e
subwoffer de fazer inveja a muitos carros das concentrações na ponte Vasco da Gama.
Tinha também rendinhas em todos os bancos, e, como é normal, estava completamente
lotado.
Chegando ao primeiro destino 2 horas mais tarde - uma pequena aldeia - apontaram-me
qual o próximo autocarro e lá fui eu. Outro autocarro, outro show de tuning.
Queria-me parecer que é um hábito comum cá. Tenho é pena das pessoas que andam
neles, têm que ouvir música a um volume que se calhar nem todos gostam! Eu
achei divertido e fiquei impressionado com a qualidade do som e o orgulho e alegria com
que eles decoram e exibem os seus autocarros. Este demorou 2 horas.
O terceiro autocarro, o que me levaria a Ella, era menos extrovertido, e a
viagem demorou 1h30 a subir uma montanha por estradas lindas.
Cheguei finalmente a Ella, 5 horas e três autocarros mais tarde, mas quando
cheguei tive um pequeno desgosto: fui avisado por um local que os comboios de
Ella tinham sido cancelados por causa de um deslizamento de terras. Tinha que
ir até à próxima aldeia apanhar o comboio.
Esperei
então por mais um autocarro, que desta vez quando entrei já estava cheio. Tive
que fazer ginástica e ser ajudado por 3 locais para conseguir entrar pela porta
de trás com as mochilas, e fizemos um puzzle para cabermos todos. Meia hora assim,
com alguns dos meus novos amigos de fora da porta para eu caber do lado de dentro, e finalmente chegava, pelo
meio dia!
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Só consegui tirar fotografias minhas no primeiro autocarro |
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Uma paragem nesta casa de banho nojenta |
Fui logo à estação de comboios, porque o comboio estava quase a sair. A estação
estava toda arranjada, feita em madeira e os seus empregados estavam
impecavelmente fardados de branco, parecia vindo de um filme antigo. Aqui soube
que o próximo comboio partia apenas às 19h, ou seja, de noite. O meu objectivo
de ver e aproveitar o caminho ia por água abaixo!
Para
evitar grandes riscos, e como que previa que uma coisa destas pudesse acontecer
(não estivéssemos no Sri Lanka!), precavi-me e fiz tudo isto com um dia de
antecedência, um dia antes de ter verdadeiramente que estar em Colombo. Sendo
assim, em vez de apanhar o comboio da noite e perder aquilo que me levou ali,
marquei o comboio para a manhã seguinte.
Estava numa mini-cidade chamada Bandarawella, no meio de uma montanha e onde
não fazia ideia o que havia para fazer ou onde dormir.
Tratei de ir à procura
de um lugar onde ficar. Andei, com as minhas duas mochilas que ficam mais
pesadas a cada passo que dou até uma ponta da cidade sem ver qualquer sinal de
hotel ou albergue. Ao início pus na cabeça que só ficaria num sítio barato,
relativamente bom e com wifi. Passados 20 minutos de procurar, só queria uma
cama em casa de alguém, fosse o que fosse! Depois de perguntar a algumas
pessoas e ninguém me conseguir responder, lá me disseram que os hotéis ficavam
todos na outra ponta da "cidade". Lá fui eu, andar para trás tudo o
que tinha andado e mais um bocado, até encontrar uma rua com hotéis, todos eles
demasiado caros para o meu budget (já tinha voltado ao meu modo forreta!). O
recepcionista de um dos hotéis disse que sabia de um sítio, que ficava ali
perto, que era o que procurava. Deu-me um capacete e levou-me de mota a uma
guest house. Lençóis por lavar, toalhas usadas, um espelho, mas com uma cama e
uma ventoinha, tudo o que precisava naquele dia. Parece ser padrão aqui no Sri
Lanka, estes sítios são sempre igualmente sujos (mas ao mesmo tempo simpáticos
e muito confortáveis). Nunca consegui ficar num sítio que tivesse uma cama ou
uma fronha lavada. Talvez para isso seja preciso ficar num hotel de luxo! Mas
não me importei nem um bocadinho, pois são culturas e a nossa é diferente mas
isto é que é o normal por estes lados.
Agora só tinha que arranjar o que fazer até à
noite. Como era Domingo, estava a haver um mercado de frutas e legumes. Um
mercado enorme onde provavelmente todos os restaurantes da região se abastecem.
Aproveitei para almoçar aqui o meu último caril do Sri Lanka, o primeiro que me
ardeu a boca, e também aproveitei para comprar umas sementes de Chilli que vou
tentar plantar em casa quando voltar. Passei o resto do dia a fazer maratona de
filmes, practivamente os primeiros que vi desde que saí, em Fevereiro, tirando
os que vi em Aviões ou no barco das Maldivas.
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População em Bandarawella |
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Onde almoçei no mercado |
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Os meus companheiros de almoço |
No
dia seguinte, levantei-me novamente às 5.30 para apanhar o comboio. Despedi-me
do meu pequeno almoço preferido aqui no Sri Lanka - string hoppers com molho de
caril, e fui para a estação.
A viagem de comboio é um espectáculo! A linha passa por sítios simplesmente
incríveis por entre montanhas, vales, enormes plantações de chá e pequenas
aldeias. As vistas eram deslumbrantes. Sem dúvida compensou fazer este esforço,
apesar de ter tido algum azar com nevoeiro durante algumas horas da viagem.
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O meu último pequeno-almoço no Sri Lanka |
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O caminho de comboio |
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A vista durante quase todo o caminho |
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Lugar privilegiado |
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O fim do caminho, 9 horas mais tarde |
Tive ainda que apanhar um segundo comboio, para ir exactamente onde queria. Este comboio estava completamente cheio, durante uma parte quase tive que ir de fora!
Fiz esta parte viagem na companhia de uma família de 4 canadianos, os pais e duas filhas, que estão a viajar pelo mundo durante 8 meses depois de elas "esmifrarem" um ano escolar em poucos meses. Estas histórias servem para mim de grande inspiração. Espero um dia poder ter este tipo de aventuras e aventuras com os meus filhos.
Cheguei a Colombo, pronto
para embarcar na próxima aventura!
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Encontrei uns amigos que estavam cansados e tiveram que ser fotografados |
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Around the World! |
O Sri Lanka foi dos
países que mais gostei de visitar em toda a viagem. Subiu directamente para o topo dos meus países preferidos no Mundo, junto da Bolívia, Nova Zelândia,
Namíbia e Japão.
Recomendo fortemente a
quem estiver a pensar, não hesite em aqui vir, porque vale mesmo a pena.
Apenas deixo uma crítica
ao país: Embora tudo seja demasiado bom e barato para acreditar (uma refeição custa
sempre menos de 1€), todos os Templos, museus ou atracções turísticas estão
completamente inflacionados. Os preços para entrar nestes lugares são estupidamente
caros, absurdos. (a entrada num templo qualquer custa sempre pelo menos 10€,
num país que tem como ordenado mínimo 150€ e um quarto de hotel vale 5€).
Outra nota, tem a ver com
o Budismo e os locais de adoração a esta religião que obviamente muito respeito:
Este
país, como outros países Budistas onde não sei se funciona de forma idêntica, está cheio de simbolismo. Foi o primeiro contacto verdadeiro que tive com
o Budismo e onde pude aprender um pouco mais sobre a religião, que tem muitos
tópicos em comum com a minha, o Catolicismo. Gostei de tudo o que aprendi, e
fiquei a respeitar e admirar ainda mais a sua mensagem. Mas não deixei de
reparar no facto de qualquer que seja o local, quer seja um templo, uma estátua
ou uma mera imagem, estar constantemente a recolher dinheiro do povo. Este
círculo de Templos vive como uma indústria. Além de, como disse, cobrarem aos
turistas preços absurdos pelas entradas nos templos, o que é mau mas aceitável,
é costume e quase obrigação comprar uma oferenda, doação ao Buda e aos Templos
ou referências. Isto somado dá largas somas de dinheiro, eu vi circularem milhares e milhares de notas na compra destas oferendas ou em diversas compras,
que iam desde flores, velas, textos, imagens, e muito dinheiro oferecido. Por exemplo, os motoristas dos autocarros param na berma da estrada onde está
uma imagem do Buda apenas para deixar uma nota, sem rezarem, e seguir viagem.
Depois,
há os parques de estacionamento, as lembranças e souvenirs, até o sítio que guarda os sapatos nos pede dinheiro (e é obrigatório lá deixar). Não apreciei muito disto. Senti que
deveria ser diferente. É normal os fiéis fazerem oferendas, a Igreja tem que
sobreviver, mas não concordo com a criação de toda uma indústria à volta disso. Repito
que esta é uma opinião pessoal e aceito quem não concorde! Em Fátima e na nossa igreja também
vemos alguns casos algo semelhantes.
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Templo Tamil |
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Encontrei algumas (poucas) referências Católicas no Sri Lanka |
Próximo destino: Vietname
(o avião vai para Banguecoque, mas para evitar a confusão lá instalada sigo
directamente para Ho Chi Minh City).
Grande NANDO! Brutal, afinal parece que foi mal que veio por bem... Brutal relato, grandes fotografias. Espetacular! Ficamos à espera do relato do Vietname! Abração e cuidado com as cobras
ResponderEliminarCassi