CHINA
A
China é um Mundo completamente diferente de tudo o resto. Nunca esperei uma
diferença tão grande com o que estava até aqui habituado a ver.
Uma
coisa é o país, a cultura, a língua, os costumes e as caras serem diferentes.
Mas acontece que aqui é mesmo TUDO. É muito difícil mostrar isto por palavras,
pois apenas vindo aqui uma pessoa tem verdadeira noção do que é, mas vou tentar
dar o meu melhor para explicar.
Quando cheguei, não sabia muito bem o que esperar. Sabia que era um país
enorme, com mais de um terço da população inteira do Mundo, de uma beleza única e de sonho. Mas não me tinha preparado
mentalmente para o que ia ser:
A China é a mistura entre o bom e o mau; entre o bonito (muito) e o feio; entre o incrível e o insuportável.
É um país completamente fechado, que se comporta como se não precisasse de
ninguém. Cada Chinês que tentei conhecer foi mais cinzento que o anterior; não
existe respeito mútuo: nas filas toda a gente passa para a frente; nos espaços
públicos, se estiverem cheios, empurram como se aquilo fosse deles; no
trânsito, basta um carro atrasar um segundo e é logo massacrado por buzinas.
O
comportamento das pessoas é todo virado para si e practicamente não consegui
notar emoções, boas ou más, nas pessoas com quem interagi. Isto é obviamente
apenas a minha opinião pessoal. É uma imagem um pouco negativa, mas foi a
opinião com que fiquei. Obviamente encontrei excepções. Em alguns sítios
cheguei a ver pessoas alegres, simpáticas, mas sempre um pouco distantes.
Por
todos os sítios onde viajo, gosto de tentar conhecer os locais, os seus
costumes, conhecer as famílias, a sua vida no dia-a-dia, etc. Aqui foi
completamente impossível. Penso que a única comunicação que consegui ter foi
nos restaurantes e lojas, ou quando por diversas vezes pessoas me viam na rua e pediam para tirar
fotografias comigo, por ser estrangeiro (aconteceu-me mesmo várias vezes!).
É
verdade que apenas estive nas grandes cidades, e provavelmente no interior é
diferente; mas é aqui que está concentrada a maioria da população.
Durante as duas semanas que estive na China, muito raramente vi crianças.
Também não vi qualquer tipo de diversão, como por exemplo um jogo de futebol,
uma rampa de skate, qualquer coisa que represente lazer, a não ser salas de
jogos, que é uma diversão forçada, pouco natural, onde vi centenas de jovens a
"divertirem-se".
A
maioria das redes sociais são proibidas no país. O Facebook, Youtube, Gmail são
automaticamente bloqueados em todos os aparelhos. Basicamente, todas as
plataformas que os permitam exprimir a sua opinião são proibidas! Tirando
quando usei um computador com um IP escondido, também eu não consegui aceder a
estas redes.
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Na rua as pessoas entretêm-se nos karaokes improvisados |
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Chinese fitness dance - os mais velhos reúnem-se diariamente para dançar e manter a forma |
Vamos
agora às partes positivas: A China um dos países mais evoluídos onde já estive. O
povo vive para trabalhar, e isso reflecte-se nas Cidades, nas Empresas e na
Indústria. Raramente vi pessoas a pedir dinheiro e a facilidade e capacidade
com que produzem é de louvar. Por outro lado (e voltamos às coisas más), o país
está cheio de sacanas e aldrabões.
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Na China todos os sítios são multidões de pessoas |
Aqui é possível encontrar o que quer que seja em imitação. Existem mercados de 5 e 6 andares que só vendem imitações. Em qualquer esquina se pode ver bancas com tecnologia,
roupa ou qualquer coisa contrafeita. Comprei ténis, camisolas da selecção, headphones, relógios, e até fiz um par de óculos com a minha graduação, tudo falso, tudo exactamente igual a como se fosse verdadeiro, tudo por 1/10 do preço.
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Loja no Fake Market de Shanghai, onde se compra ténis practicamente autênticos por 12€ |
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Camisolas a 7€, iguais às verdadeiras, com etiqueta e tudo |
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E onde também se fazem testes de visão, com toda a tecnologia dos consultórios |
Como
disse, na China é cada um por si e muita gente sabe que vender falsificações pode render. Este país é o paraíso das coisas deste tipo.
Também
se vê nas ruas principais inúmeras pessoas a abordarem os turistas e tentarem
levá-los a locais como mercados de contrafacção; massagens onde cobram um tanto
por um tempo, mas depois cobram 10 vezes mais pelo espaço e ameaçam quem tentar
não pagar; festivais tradicionais como por exemplo uma prova de chá, mas de
onde só deixam sair depois pagarem centenas de dólares; enfim, todo o tipo de
vigarices que lhes permita ganhar dinheiro, por vezes da pior maneira.
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Uma das milhares de coisas que são vendidas |
Outra
coisa que me marcou na China (apenas onde eu estive, obviamente) foi o facto de
viver debaixo de um "nevoeiro" constante, devido à poluição. Muita
gente anda de máscara na rua, pois viver a vida inteira sem cuidados com a
respiração trás alguns perigos. Raramente vi o Sol durante este tempo.
Para
terminar de falar das coisas negativas, e antes de voltar àquilo que gostei,
tenho que dedicar um parágrafo ao principal dos principais problemas: Ninguém,
repito, rigorosamente ninguém fala Inglês. Antes de vir, pensei que não haveria
problema, que uma ou outra pessoa iria saber umas palavras. Acontece que nem
uma palavra sabem. Desde hello, thank you, please, não sabem absolutamente NENHUMA!
Depois de muito sofrimento a tentar fazer o que quer que fosse, estimei que
apenas um em cada 50 ou 60 chineses saiba um mínimo indispensável para ajudar
um turista a chegar do ponto A ao ponto B.
Estou
a viajar à procura de aventuras, esta foi uma das grandes! Mas, ao contrário de
outras, esta representou um desgaste enorme e pouco contribuiu para a minha
experiência.
Para
tentar chegar a uma estação de metro, por exemplo, teria de falar com pelo
menos 10 pessoas e mostrar os mapas das linhas até uma ser simpática e esperta
o suficiente e conseguir apontar a direcção.
Desde
polícias na rua; taxistas; até aos balcões de informação da cidade, ninguém
sabe dizer o que quer que seja, nem um simples "go". Várias vezes me
perguntei como é que é possível este país ter organizado os Jogos Olímpicos há
menos de 6 anos...
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A sinalética é toda em Chinês, não há uma palavra em Inglês em lado nenhum |
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O facto de ninguém saber Inglês prejudicou-me inúmeras vezes, nomeadamente a pedir comida: nunca sabia o que pedir, então por vezes apareceram-me estes pratos com carne de um bicho qualquer, massa nojenta e legumes a cheirar péssimamente! |
Mas,
ao mesmo tempo, a China é dos países mais incríveis em que já estive. Sempre
tive um fascínio enorme pelo país e era um objectivo de muitos anos visitá-lo.
A sua história milenar faz com que seja dos mais interessantes do Mundo. Em
duas semanas, pouco desta história fiquei a conhecer e fiquei a querer saber
ainda mais. Vou certamente fazer o que conseguir para voltar, mas penso que só irei voltar noutras condições.
As
dinastias e imperadores históricos; as guerras e invasões; a sua arquitectura típica;
a natureza e a evolução; saber o que ali se passou nos milhares de anos
passados, é tudo incrível. E saber que estamos perante a mais poderosa nação da
actualidade, testemunhar a evolução que está a acontecer à velocidade da luz é
também um dos pontos altos desta visita.
Mas,
após estas duas semanas e mesmo tendo hipótese de ficar uns dias mais, decidi
que apenas irei voltar sabendo falar Mandarim, ou com um intérprete. É muito
difícil viajar de verdade sem conseguir sequer falar nem interagir com as
pessoas.
XANGAI (eu prefiro chamar Shanghai)
É a cidade mais moderna que já vi em termos de arquitectura. Com prédios de
fazer inveja a Nova Iorque ou Dubai, Shanghai iniciou uma evolução alucinante
há 20 anos. Desde então, tornou-se num dos principais centros financeiros e
económicos a nível mundial e todas as empresas importantes estão aqui
representadas. Por outro lado, ainda vive um pouco também na antiguidade. Em
algumas zonas, para além das casas, templos e edifícios típicos Chineses, é
possível ver roupa estendida no meio da rua, fios e cabos à solta, e milhares
de indícios de país de terceiro mundo. O que mais me fascinou nesta cidade foi
a união do moderno com o antigo, que criam uma ligação brutal!
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Combinação perfeita entre o antigo e o moderno |
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A igreja onde fui à Missa da Páscoa
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Subi ao prédio da esquerda, o mais alto de Shanghai por enquanto |
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Vista do topo |
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PORTUGAL Around the World |
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Base da Torre Pérola do Oriente |
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Como sempre, quando joga o Benfica uso a camisola. Neste dia fomos Campeões |
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Pormenor dos andaimes em Bamboo |
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Um dos templos no meio da cidade |
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Os Chineses são muito consumistas. Aqui a fila para a Abercrombie num dia de semana |
Na
rua, as motas circulam como se fossem peões! Andam pelos passeios no meio das
pessoas, buzinam se alguém não sair da frente, e não param num único sinal.
A cidade vive ao som de um constante buzinão. Parece obrigatório buzinar se
alguma coisa correr fora do normal, como por exemplo o carro da frente ser
lento, ou pelo simples facto de o semáforo estar verde e quererem avisar que não pode abrandar.
É incrível ver o tamanho de Shanghai. Imaginem uma data de Lisboas colocadas
lado a lado, multipliquem por três e acrescentem mais uma ou duas Lisboas, é
isso!
É também incrível a evolução e a modernização desta cidade. Tem os projectos
arquitectónicos mais ambiciosos e espectaculares que alguma vez já vi! Os
inúmeros arranha-céus junto ao rio criam a paisagem única de Shanghai que todo
o Mundo conhece e é ainda mais imponente ao vivo.
Aqui
fiquei a dormir em casa do Diego, um Mexicano amigo de amigos, que me deu
também a conhecer um pouco do lifestyle da cidade. Achei muito parecido com a
Europa: desde o tipo de restaurantes, bares, o tipo de programas que fazem,
etc.
Shanghai
é uma cidade de alta categoria, animada, que merece uma visita!
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Placas a indicar o trânsito na cidade |
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Shanghai há 20 anos, há 10, e agora! |
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Grande modernidade em todos os prédios |
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Teve também uma grande inspiração Europeia, que ditou uma fase de construção da cidade |
PEQUIM
Pequim é a capital da China. Tem mais de 20 Milhões de habitantes, o dobro da
nossa população inteira, o que dá uma ideia da autêntica enormidade que é esta
“cidade”!
Como
cidade em si, Pequim não tem tanto interesse como Shanghai. Tem, por outro
lado, algumas das mais incríveis atracções turísticas que existem, como por
exemplo a Grande Muralha da China, um dos principais pontos históricos e
culturais do Mundo.
A
Grande Muralha pode ser visitada logo nas imediações de Pequim. Mas para evitar
o enorme fluxo turístico desse ponto, fui visitá-la noutro local: uma pequena
aldeia a 80km chamada Mutianyu.
Há
muito, muito tempo que sonhava com este dia. A Muralha da China é para mim dos
locais mais impressionantes e interessantes que há para ver, portanto foi um dia que me marcou.
O primeiro momento em que a vi
(a Muralha) foi emocionante, e fiquei fixamente a olhar para ela durante os
últimos quilómetros em que me aproximava. Mal cheguei, comecei a caminhar pelas
infinitas pedras, que afinal são todas degraus. Foi uma dificílima escalada de
3 horas, que se tornou simples pelo enorme prazer que me deu!
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A subida é feita de cadeirinhas estilo neve |
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O primeiro momento na Muralha |
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Vista da Muralha |
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Durante a caminhada, fui conhecer pontos que estavam destruidos e fechados ao público |
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Vamos estar para sempre representados na Muralha da China |
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Este dia vai ficar para a história da minha vida |
De seguida fui ver os túmulos da dinastia Ming, um ponto muito
interessante, mas que não vou falar aqui no blog, porque se tornaria uma seca!
A China é um país que vive com a tradição do chá. É um dos seus
maiores costumes e por todo o lado há inúmeras casas de chá. Todos os
restaurantes servem chá aos seus clientes; e o povo todo tem consigo uma
garrafa com um pouco de chá a qualquer hora. Num dos dias, fui conhecer uma
destas casas. Foi uma experiência engraçada, pois aprendi como se
servem, de onde vêm, etc. Um dos ilustres visitantes desta casa tinha sido há
uns anos, além da Rainha de Inglaterra e do Vladimir Putin, o Luís Figo, e
tinham uma fotografia dele pendurada logo na entrada.
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Explicação de chá - parece uma seca mas não é! |
O outro ponto principal que fui visitar em Pequim foi a zona da Cidade Proibida.
Nesta zona, mistura-se o passado e o presente da China. De um lado, o Palácio
Imperial, onde grande parte das Dinastias habitou e governou; do outro, a praça
Tiananmen, onde está o edifício do Congresso Chinês actual - O edifício onde
são tomadas as decisões do mais poderoso país do Mundo. Parece indiferente, mas nesta praça tem sido definido o rumo de muitas coisas que afectam toda a humanidade. Senti-me no Centro de
tudo e não é por acaso que apesar de ser uma das maiores praças do Mundo, toda
a gente que lá entra é devidamente revistada.
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O Edifício do Governo Chinês |
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Como em todo o lado, estamos lá |
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A insuportável presença de turistas Chineses na Cidade Proibida |
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Com a sua obsessão por fotografar tudo |
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Cidade Proibida |
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Grandes detalhes em todas as construções |
Em 2008, a cidade de Pequim acolheu os Jogos Olímpicos. É o
principal Evento desportivo do Mundo, e apesar de ser uma cidade evoluída, com
um dos melhores e mais simples sistemas de transporte que já vi, não consigo
ver como é que foi possível. Não há uma pessoa que fale Inglês na rua, as
indicações estão practicamente todas em Chinês, e é de dificuldade extrema uma
pessoa se organizar. Calculo que na altura tenham trazido muita gente de fora
para ajudar.
De qualquer forma, a Cidade Olímpica mantém-se intacta e é das
coisas mais espectaculares de Pequim – O Ninho de Pássaro, como é conhecido o
Estádio Olímpico, é dos mais impressionantes estádios do Mundo. Arrisco-me
dizer que é o estádio com a arquitectura mais moderna que existe. Foi aqui que
Portugal recebeu a última medalha de Ouro olímpica, a do Nelson Évora.
Também o complexo de piscinas é brutal, todo ele é revestido por
gigantescas bolhas de ar.
Gostei muito de ter ido visitar este lugar por ser um marco na
história moderna.
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Grande pormenor da arquitectura espectacular do estádio |
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O sítio onde o Nélson Évora conquistou a medalha de ouro |
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Talvez o único pôr do sol que muita gente viu em Pequim recentemente |
Outras imagens e locais de Pequim:
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Palácio de Verão |
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Lago artificial do Palácio de Verão |
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Começam a haver muitos sítios espalhados pelo Mundo com este autocolante |
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Na China,são assim a maioria das casas de banho |
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Quem me deu casa em Pequim, o Pedro Charters |
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A cantina da universidade onde ele está a estudar Mandarim |
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A minha cama durante 3 noites |
Em todos estes lugares, a presença de turistas foi abundante e
até incomodativa. Além de todas as pessoas que vêm de fora, os destinos
turísticos Chineses contam com um enorme número de turistas internos, pois têm
a China como principal destino de férias. A Muralha, por exemplo, recebe
anualmente 35 Milhões de turistas estrangeiros e 150 Milhões de turistas
Chineses!
Foi portanto impossível evitar as enchentes e as multidões, o
que tornou a visita a alguns sítios algo infernal, pelo número de pessoas e
também pela personalidade e comportamento “de chapada” da maioria dessas
pessoas.
A coisa que mais me divertiu no meio desta confusão foi, como referi anteriormente, a constante abordagem que eles me faziam para pedir para tirar fotografias comigo. Em alguns casos, raparigas pediam aos namorados e aos pais para nos tirar uma fotografia, o que me deixava algo incomodado, mas achei muita graça.
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A entrada para o metro |
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A fila para atravessar a rua |
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Uma das pessoas que me pediu para tirar fotografia comigo, aproveitei e fiz o mesmo! |
Em resumo, foram duas semanas num destino que tinha que incluir
nesta viagem mas que não foram de todo fáceis. Creio no entanto que valeram e muito a pena.
Talvez fique arrependido de não ter ficado um pouco mais de tempo, mas a viagem
é mesmo assim – ir decidindo conforme me vou sentindo, e a verdade é que não me
estava a sentir confortável. Para a história ficam as visitas à
Muralha da China, um dos meus maiores objectivos em termos turísticos que agora
concretizei; à Praça Tiananmen; a Shanghai; uma nova experiência com um (pouco agradável) povo
que sempre quis conhecer; e a visita a um
país que tem muito a ensinar ao nosso em termos de produtividade e vontade de
trabalhar.
Nestas duas semanas, não considero que tenha estado a viajar,
mas sim a fazer turismo, que é bem diferente! Perto do final da viagem explico
o que é para mim esta diferença...
Próximo destino: Japão!
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