Estou neste momento a meio da primeira semana da viagem, e
parece que já passaram meses! Digo isto no bom sentido, pois tenho andado a
fazer tanta, ams tanta coisa que nem dá para perceber bem.
Cheguei a Cape Town, África do Sul na Quinta-feira, dia 6.
Ao principio quando cheguei, fiquei um bocado à nora pois tinha acabado de
chegar a um país novo e tinha poucas noções de como as coisas funcionavam.
Apanhei logo um autocarro para o centro da cidade, e outro directo para o
hostel, não podia ser mais fácil, quem dera a muitas cidades no mundo ter um
sistema de transportes tão prático como este.
A primeira impressão não podia ter sido melhor. Uma cidade
evoluída, agitada e simplesmente espectacular. É uma mistura entre Sydney e Rio
de Janeiro. Sydney porque o centro da cidade é muito parecido, e Rio porque
está envolvido por um conjunto de montanhas gigante chamada Table National
Park. No meio destas montanhas, há uma que é maior que todas as outras, e está
mesmo junto ao centro da Cidade do Cabo – a Table Mountain. Foi-lhe dado este
nome porque é completamente plana em cima, portanto faz lembrar uma mesa. Este
é o principal marco da cidade, a sua maior atracção.
Fui dar uma volta pela cidade, e pela sua rua principal –
Long Street. Nesta rua passa-se tudo, de dia e de noite. Uma das pontas é o
Centro Empresarial de Cape Town, e na outra é a zona dos bares, restaurantes, e
onde se vai sair à noite. É uma rua sempre muito agitada e activa.
Depois de conhecer os principais pontos da cidade (faz-se
tudo a pé em 1h30), e de almoçar num dos meus restaurantes preferidos, o
Nando’s, voltei para o Hostel. Uma noite de hostel (qualquer um decente) num
quarto partilhado custa à volta de 14€ com pequeno almoço incluído.
As pessoas na cidade são todas incrivelmente simpáticas.
Nota-se uma clara diferença entre os brancos e os africanos (é como eles chamam
a quem tem a pele escura). São claramente mais os africanos (eu diria 60%
africanos, 25% brancos e 15% indianos) e é possível reparar que os africanos
são também os que mais trabalham nos serviços (restaurantes, lojas, bares,
táxis, etc). Vê-se muita diferença entre pobres e ricos, e há uma grande
mistura entre pessoas com bom aspecto e pessoas com mau aspecto. Em menos de
uma semana pediram-me dinheiro mais de 50 vezes. As primeiras cedi, com pena.
Só depois li que é considerado uma praga aqui e que não se deve ceder nem
contribuir. Apesar de me estarem constantemente a pedir dinheiro, não me senti
ameaçado uma única vez. A cidade é bem segura, e tem por todo o lado homens
fardados denominados “Public Safety”, para evitar os pequenos problemas. Quanto
às pessoas que se vê que têm mais dinheiro, podiam perfeitamente ser dos melhores
bairros de Lisboa, Cascais ou Porto. São mesmo muitas as parecenças.
Qualquer parecença com Portugal há 10 anos é pura coincidência! |
No segundo dia de manhã, quis conhecer o principal ponto de
Cape Town, e então fui subir o Table Mountain. Para apreciar mais e conhecer
melhor a cidade, decidi subir a pé. Demorei quase duas horas a subir os 6km que
foram mais duros do que eu pensava. A subida era muito inclinada e deviam tar
para ai uns 30º. Apesar disso, haviam bastantes pessoas nos seus cinquentas e
sessenta anos a subir. Foi uma manhã muito boa, tendo em conta as vistas
incríveis que pude ter no caminho. Depois, li que semanalmente acontecem
acidentes com pessoas a subir a montanha, e que já morreram mais pessoas a
tentar subir aquilo do que o Evereste (!)
Infelizmente, quando cheguei lá acima, a montanha ficou coberta
por um nevoeiro cerrado. Deixei de ver o que quer que fosse. Dizem que é
normal, a razão tem a ver com os ventos que vêm do Oceano e de Terra, sobem
pela montanha e criam umas nuvens instantâneas. Estas nuvens até criam um
efeito bem engraçado, porque descem pela montanha como se fossem avalanches.
Mas foi azar elas terem aparecido neste dia, pois não consegui ver “ um boi” de
lá de cima.
Mesa atrás com 5 japoneses, todos a mexer no telemóvel |
No dia seguinte, fui fazer uma das coisas que sonhava fazer
há muitos anos, desde que o meu amigo Francisco Patrício cá esteve e me falou
na existência desta actividade, para qualquer um: Mergulhar com tubarões
brancos, dentro de uma jaula em alto mar!
A viagem começou às 10 da manhã e demorou duas horas, até
chegarmos a uma terra chamada Hermanus. Partimos de barco para cerca de 500m da
costa, a tripulação manda uma cabeça de atum e milhares de sardinhas e gordura
à água, e nós entramos dentro de uma jaula à espera que os tubarões apareçam.
Mas nesse dia tivemos azar, porque não apareceu nenhum
tubarão! Ou melhor, apareceu, mas apenas quando faltavam 10 minutos para o
passeio de 2h30 acabar! Dizem que é um acontecimento raro, e eu acredito porque
falei com umas pessoas que tinham ido uma hora antes que estavam todas
excitadas porque tinham visto 5 tubarões! Ao menos vi pela primeira vez um
tubarão branco, apesar de ter sido durante muito pouco tempo. É engraçado,
porque o Patrício quando foi há quase 10 anos também não viu nenhum.
Por um lado fiquei irritado, mas por outro isto faz-me
sentir descansado porque percebi que é muito mais difícil que pensava eu ser
atacado por um tubarão quando estiver a surfar em locais considerados de
perigo. Se na praia com maior número de
tubarões brancos do mundo, com isco, eles não aparecem, então não é tão fácil
como eu pensava ser atacado!
Depois de uma troca de e-mails e uma pequena discussão,
consegui receber uma nova data para ir fazer isto noutro dia. Mais à frente
conto como foi..
Nessa noite (sábado) fui sozinho ver o que se passava na
Long Street, a achar que ia voltar passado alguns minutos. Saí do hostel pelas
9 da noite e voltei às 3.30 da manhã. Tive uma noite bem divertida, em que
passei por quatro bares, todos cheios. Toda a gente sabe que os Africanos são
pessoas muito bem dispostas e animadas. Isso, juntando com um bocado de álcool,
fica a receita perfeita para uma noite ideal!
Domingo, dia 9, tive um dia em grande! Graças a um post que
pus no facebook antes de vir viajar, arranjei uma data de contactos de pessoas
espalhadas pelos vários sítios onde por onde vou andar. Um dos contactos foi um
sul-Africano chamado Simon, que como não estava cá, me deu o contacto de uma
amiga dele, a Cindy. Combinei com ela ir a Cape Point, o parque Nacional onde
está o Cape of Good Hope, Cabo da Boa Esperança.
Cabo da Boa Esperança, como sabemos, foi o Cabo que
Bartolomeu Dias conseguiu pela primeira vez na história ultrapassar, que divide
o Oceano Atlântico do Oceano Índico, e que permitiu a Portugal navegar até à
Índia, tendo acesso à riqueza daquele país.
No Cape Point, são inúmeras as referencias a Bartolomeu Dias
e a Vasco da Gama, e a maioria das pessoas em Cape Town sabem bem quem são, de
onde são e o que fizeram. É um orgulho ver Portugal com uma presença forte tão
longe.
São, aliás, várias as referencias a Portugal espalhadas por
toda a cidade de Cape Town. Desde restaurantes Portugueses, a negócios com
nomes em Português, a barcos Turísticos ou até Praias chamados Dias e Da Gama.
Quanto à presença de Portugueses, notei pouco, mas mesmo assim conheci alguns,
acho que 5, durante a semana que estive aqui.
O Cabo da Boa Esperança é bonito, mas podia ser o Cabo da
Roca em Sintra. A única coisa que interessa ali é o facto histórico e saber o
que aquilo representa. No caminho encontrámos Avestruzes e Babuínos a andar na
estrada como se nada fosse, foi uma risada!
À noite fui com a Cindy e com o grupo de amigos dela ao
concerto do Kendrick Lamar, para quem não sabe é um cantor de Rap, dos meus
preferidos hoje em dia.
No dia seguinte foi a vez de ir visitar a Robben Island, onde
está a prisão em que o Nelson Mandela esteve preso durante 22 anos. É um dos
pontos mais turísticos da cidade, o que normalmente não é bom, mas vale a pena
para sentir o lado emocional de estar na cela onde um dos homens mais
influentes da história viveu durante tanto tempo, e onde começou o fim do
apartheid. Gostei muito de ir, principalmente pelo facto de a visita ser guiada
por um ex-prisioneiro. No meu caso, era um ex-prisioneiro político que lá esteve
8 anos, um dos quais com Mandela.
A ilha fica a 7km de terra, e apenas um homem conseguiu
fugir, enquanto serviu de prisão.
Para ir à Robben Island, é preciso apanhar um barco que
demora 1 hora, a partir da Waterfront. A Waterfront é uma zona recém
construída, junto à água, parecida com o parque das nações, mas MUITO mais bem planeado e mais agradável de estar.
A cela onde esteve Nelson Mandela |
Para quem não conhece, uma pequena lição sobre o Apartheid |
Terça feira foi dia de ir tentar novamente fazer o mergulho
com os tubarões, desta fez foi absolutamente espectacular!
Tudo correu bem, a água estava transparente, e os tubarões
finalmente decidiram aparecer.
Estive cerca de uma hora dentro da jaula, e durante esse
tempo vi 8 tubarões, cada um passou durante pelo menos 3 minutos. Foi incrível!
Esta foi uma das melhores experiências que tive na vida.
Nunca imaginei que ia poder estar assim tão perto de um tubarão branco. Sem
dúvida uma experiência que vale a pena ter e não podia estar mais contente de
ter tido a oportunidade de repetir depois do azar da primeira tentativa.
A distância a que estamos da costa |
![]() |
Incrivel! |
Na quarta, fui fazer outra actividade, chamada Kloofing.
Kloofing consiste na mistura de 3 desportos diferentes: caminhada, rappel e
escalada/saltos de rochas. Fui com um grupo de 8 pessoas, de várias
nacionalidades, principalmente Ingleses e Americanos.
O dia começou com uma longa caminhada de 2 horas pelo mato
até um ponto onde aconteceu o rappel: um vale com 60 metros de altura no meio
de umas montanhas espectaculares e imponentes. Estava com grandes espectativas
para este dia, e não me desiludiu!
O rappel intimidou-me um bocado, e olhando lá para baixo e
ver as pessoas de 60 metros de altura, fiquei com um bocado de medo
(principalmente porque estou em África, e nunca se sabe se as coisas são
seguras como seriam na Europa). Mas fiz e foi incrível.
A segunda parte do dia foi ainda melhor, pois consistiu
basicamente em passar a tarde num lago, a saltar de rochas. Primeiro começámos
por uma rocha de 6 metros, seguida de uma de 7 metros, depois 10 metros e aí
seguimos para a que tinha 14 metros, que era muito muito intimidante. Até aí, a
maior rocha que tinha saltado era de 10 metros, esta era gigante!
Depois de saltar a de 14, achei que já não ia conseguir
saltar maior, mas estava com tanta pica que fui ver se conseguia saltar a de
18. Demorei uns 10 minutos a conseguir ter confiança, mas depois de respirar
fundo e rezar um bocado finalmente lá consegui saltar! Foi absolutamente
incrível!! Não sei é se vou conseguir repetir alguma vez...
Depois vou conhecer a Garden Route, estrada que liga Cape Town a Port Elizabeth (centro da África do Sul, na Costa) que dizem que é mesmo brutal.
Informações inúteis sobre a África do Sul:
A moeda é o Rand, e a conta que faço, para ficar sempre a ganhar, é 1 para 10, ou seja, 10 rand equivale a 1 euro. Embora tenha sido assim recentemente, hoje em dia o € tem vindo a ganhar face ao Rand, pelo que em cada coisa poupo uns trocos. O preço das coisas cá é surpreendentemente parecido com as coisas em Lisboa: uma coca-cola custa 10 rand (1€), um mcdonalds custa 60 rand (6€), uma cerveja num bar custa 25 rand (2,5€), por aí adiante.
Eles guiam do lado esquerdo da estrada. São um daqueles países no Mundo onde gostam de confundir os turistas...lembro-me perfeitamente quando fui à Austrália ter entrado numa rotunda em contra mão...